George Orwell escreveu 1984
na década de 40, mas a intromissão pública na vida privada remonta ao
Estado de Polícia desenvolvido por Napoleão no século XIX, o que não
quer dizer que a intimidade não despertasse
a curiosidade das pessoas antes disso, já que muitos fatos
aparentemente banais sobre determinadas pessoas famosas já haviam
preenchido as páginas da história bem antes disso.
A velocidade da comunicação apenas acelerou essa exposição, ainda que a propagação de fatos cotidianos pela internet não possa ser confundida com falta de proteção da intimidade, pois a intimidade está atrelada ao próprio ser humano, como estão outras características de sua personalidade como a expansividade ou a introspecção.
O grande segredo de “O show de Truman” é que o filme trabalha não apenas com a exposição da intimidade, mas também com a massificação social da transformação da intimidade em informação, entretenimento, ou símbolo do que as pessoas projetam para a sua própria vida, a banalização da exposição criou um efeito secundário, o surgimento de ídolos comuns descartáveis, por meio da identificação pessoal do espectador.
O filme aborda, ainda, a questão do livre arbítrio, ou da autonomia da vontade, pois todas as tentativas de Jim Carrey de abandonar a sua cidade são vistas e interceptadas pelo diretor do programa que se autoproclama um deus, criador de um mundo posto aos olhos do espectador que passivamente se emociona com a saga de Truman. Destaque para a cena em que Truman navega até o fim do mundo, uma parede de estúdio e sobe aos céus para encontrar seu criador.
O Show de Truman é um filme que representa como poucos, o mundo do entretenimento de hoje, o que por si só já o permite ser classificado como um clássico, um novo clássico do cinema. O filme é de 1998. Belíssimo filme.
Comentários de FREDERICO POLES BORGONOVI
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