Às vezes as coisas acontecem como
em "Crônica de uma Morte Anunciada" de Gabriel Garcia Marquez, os fatos
seguem uma ordem determinada que não desvia de um previsível final. Mas
esse não é o ponto principal de "Os descendentes", na verdade o que se
anuncia desde o começo do filme é a razão indireta pela qual os
personagens são postos aos olhos do espectador, já que o filme trata essencialmente das relações familiares conflituosas.
George Clonney concorre a melhor ator pelo papel de um advogado, milionário herdeiro de um punhado de terras nativas no Avaí, cuja esposa sofre um acidente na primeira cena do filme e entra em coma. Sua constante ausência paterna é sentida pelas suas duas filhas com as quais tem enorme dificuldade em se relacionar.
Parece um dramalhão, mas
na verdade o filme é conduzido de maneira bem leve por um dueto que
funciona muito bem, a alternância entre belas paisagens e uma ótima
música havaina de fundo. Nesse aspecto, lembra um pouco o estilo de
Woody Allen visto em filmes como "Meia-Noite em Paris".
Aos olhos do
azul do mar havaiano a grande questão posta pelo filme se refere à
relativização das dores, ou seja, em vista da dor inevitável da perda, o
que acontece com as dores menores? Se na sabedoria popular "todo morto
vira santo", na verdade o filme trata da construção de uma redenção
indiretamente, por meio do amor das outras pessoas, e da forma como essa
construção se assenta nas dores que vão sendo superadas.
Todo o
filme que leva a algumas reflexões pode ser por vezes considerado um bom
filme, eu diria que "Os descendentes" atinge esse estágio com uma
mistura de drama e lirismo, mas suas chances na briga pelo Oscar devem
estar restritas à estatueta de ator para George Clooney, que deve
enfrentar certa concorrência.
Comentários de FREDERICO POLES BORGONOVI
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