De um silêncio ruidoso surge a voz de
Ryan Gosling, num clima que prenuncia a arte da guerra política, a
atmosfera da direção e dos diálogos lembra um pouco o excelente
"Frost/Nixon", mas o filme trata da desconstrução dos sonhos por meio do
choque de realidade do espaço político. Numa espécie de contraponto ao
"Discurso do Rei", que curiosamente começa da mesma forma, com o
silêncio rompido pelo microfone do discurso aqui o líder é construído
não por meio da superação de desafios ou da afirmação de suas virtudes,
mas com base na prática política já descrita por Maquiavel no século
XVI. Embora o filme seja dirigido e estrelado por George Clooney, a cena
é roubada pela excelente atuação de Ryan Gosling, que começa o filme
com o idealismo quixotesco da construção de um sonho num ambiente em que
os sonhos são oprimidos pela realidade sórdida, e aos poucos vai
mergulhando com profundidade naquilo que Morpheus chamou em Matrix de
"deserto do real".
Desde o desenvolvimento da tecnologia, a política
passou a ser uma mistura das concessões, trocas de favores e falsas
promessas com um elemento novo, a construção da imagem do líder virtual,
o príncipe de maquiavel entrou na Matrix. A ilusão política já havia
sido bem explorada em "Mera Coincidência"com o dueto Hoffman/de Niro,
mas volta a ser muito bem explorada nesse filme que surge como um dos
favoritos ao Oscar 2012, recebendo várias indicações importantes ao
Globo de Ouro. Excelente filme que retrata o ambiente em que o apanhador
de sonhos não aceita os sonhos impossíveis que transformam os moinhos
de vento em urnas, mas aceita a desilusão como moeda de troca por esses
sonhos.
Comentários de FREDERICO POLES BORGONOVI
Comentários de FREDERICO POLES BORGONOVI
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