Uma história é contada não apenas por uma sucessão de personagens, fatos e ações, ela é contada principalmente pelo olhar do narrador, seus sonhos e a sensibilidade com que transmite sua percepção da vida, das dores e dos amores. Scorsese foge um pouco do universo da máfia, onde fez história, para contar uma história que Rubens Ewald Filho chamaria com razão de sensível, e prestar sua homenagem à história do cinema.
Hugo Cabret é um garoto de 12 anos que perde o pai, relojoeiro, e por algumas circunstâncias da vida vai morar na estação central de trens de Paris, um lugar por onde circulam diversos personagens que ostentam um charme próprio, com destaque para a atuação de Sacha Baron Cohen, o Borat, como o inspetor desajeitado apaixonado pela florista, e o dono da loja de brinquedos Ben Kingsley.
As lembranças do pai e a busca por repostas se misturam ao surgimento de uma amizade com a sobrinha do dono da loja de brinquedos, Isabelle, menina que sonha em viver uma grande aventura, transpondo o mundo dos livros.
Numa das belas frases do filme o pequeno Hugo conforta Isabelle dizendo que enxerga o mundo como uma enorme máquina, e que pela sua experiência consertando máquinas, não existem peças desnecessárias em uma máquina, tendo cada peça a sua devida função e importância nessa engrenagem, ainda que cada peça não saiba sua função.
A aventura de Hugo e Isabelle pelo mundo dos livros, filmes e máquinas desemboca em uma homenagem a um dos pioneiros do cinema, George Meliès, prestada pela lente sensível de Scorsese.
Um belíssimo filme, que mostra que com idealismo e coragem é possível tentar consertar o mundo, ou ao menos torná-lo um lugar melhor, com bela fotografia e impecável direção de Scorsese, entra na briga pela estatueta de melhor filme com "O Artista", mas talvez fique apenas com o prêmio pela direção, roteiro adaptado, e uma porção de merecidos prêmios técnicos pela construção de um universo mágico iluminado poeticamente pela Torre Eiffel e pelas estrelas.
Comentários de FREDERICO POLES BORGONOVI
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