.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Filmes 2011: Anônimo


    
“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre
Em nosso espírito sofrer pedras e setas
Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,
... Ou insurgir-nos contra um mar de provocações
E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais.
Dizer que rematamos com um sono a angústia
E as mil pelejas naturais-herança do homem:
Morrer para dormir… é uma consumação
Que bem merece e desejamos com fervor.
Dormir… Talvez sonhar: eis onde surge o obstáculo:
Pois quando livres do tumulto da existência,
No repouso da morte o sonho que tenhamos
Devem fazer-nos hesitar: eis a suspeita
Que impõe tão longa vida aos nossos infortúnios.(...)”
Hamlet, W. Shakespeare.
 





O filósofo italiano Giorgio Agamben, analisa em suas obras sobre o poder, a figura  do “homo sacer” o homem condenado à morte na época do Império Romano, mas não morto, colocado em liberdade para vagar pelas ruas a espera dessa morte, podendo ser morto de forma impune por qualquer homem do povo.


 
O filme “Anônimo” conta a história de um “homo sacer” um homem que vaga pela vida sem conseguir colocar o seu toque pessoal num mundo que naturalmente precisava desse toque, nas páginas em branco que precisavam das suas palavras, nas linhas que foram construídas para receber seus versos. Esse homem sem rosto nas páginas da história é o Conde de Oxford, Edward de Verre, que supostamente teria escrito toda a obra atribuída ao ator William Shakespeare.


 

Ainda que o filme tenha despertado uma certa polêmica na Inglaterra por supostamente denegrir a obra de um dos maiores nomes da literatura inglesa, em verdade o filme faz uma enorme celebração dessa obra, do significado das palavras, sua importância para o combate à tirania, a construção dos sonhos, a propagação da emoção, por meio da contextualização da obra shakespeareana, sua importância política e poética.

O diretor Roland Emmerich, responsável por enormes e exagerados blockbusters como “2012”, “Independence Day”, “O Dia Depois de Amanhã”, mostra por meio de “Anônimo” que muitas vezes o talento é obscurecido pela enormidade da produção, pela ganância comercial responsável por mover uma indústria que se afasta cada vez mais da arte responsável pela sua criação.

Belíssimo filme que coloca um dos bens mais preciosos da humanidade, a palavra, num lugar que honra a sua importância, ainda que para fazê-lo, um homem tenha que abdicar de uma vida, que, no entanto, perde o seu significado quando confrontada com o tamanho da obra que dela se originou, maior que reis e rainhas, bispos e frades, amantes apaixonados ou a aparição de anjos e sonhos em noites de verão.



“Vi bem o ponto em que caiu a flecha do travesso Cupido: uma florzinha do ocidente, antes branca como leite, agora purpurina, da ferida que do amor lhe proveio. "Amor ardente" é o nome que lhe dão as raparigas. Vai bus¬car-me essa flor; já de uma feita te mostrei essa planta. Se deitarmos um pouco de seu suco sobre as pálpebras de homem ou de mulher entregue ao sono, ficará lou¬ca¬men¬te apaixonado por quem primeiro vir, quando desperto. Vai buscar-me essa planta; mas retorna antes de duas léguas no mar vasto nadar o leviatã.” (Oberon, Sonho de uma Noite de Verão, W. Shakespeare)






 

Nenhum comentário:

Postar um comentário