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sábado, 24 de março de 2012

Filmes Clássicos: Matrix


Em 1984 o escritor americano William Gibson publicou o livro “Neuromancer”, introduzindo na literatura de ficção conceitos como ciberespaço e contracultura, o que lhe valeu o apelido de “profeta noir do ciberpunk”.

Em 1999, já após a popularização da Internet, esses conceitos passaram às telas de cinema no primeiro filme da trilogia Matrix, que adicionou ao ciberespaço físico de Gibson a discussão sobre a virtualização da vida desenvolvida por Jean Baudrillard em “Simulacros e Simulação” (1981).

A Matrix é o espaço virtual cuja realidade se impõe de forma tão real que não se sabe o que é real e o que é virtual, embora o glamour e a perfeição da Matrix encontrem na realidade um contraponto sombrio e desértico, o que é bem ilustrado na frase proferida por Morpheus quando recebe Neo nessa realidade “Bem vindo ao deserto do real!”

O filósofo eslovaco Slavoj Zizek identifica um outro ponto importante na virtualização da vida experimentada a partir de Matrix, a questão da glamourização ficcional dessa vida, o que pode ser muitas vezes visto em redes sociais e nas próprias notícias curtas sobre celebridades que circulam no ambiente virtual.

Mas Matrix adiciona um tempero importante à discussão da virtualização da vida, a virtualização das cenas de ação, coreografadas em rápidas câmeras lentas, o que viria a ser repetido de forma quase obrigatória nos filmes de ação que o sucederam.

Algumas características místicas, ainda, podem ser vistas no filme, na profecia do eleito ou no nome de alguns personagens como Morpheus, o Oráculo, que se colocam no mesmo mundo onde habitam o Chaveiro, o Arquiteto.

Talvez o fato de ser uma trilogia tenha retirado um pouco do impacto do primeiro filme, mas se no segundo volume “Reloaded”, os diretores abusam das cenas de luta, no terceiro filme “Revolutions”, a busca de respostas e o aumento exponencial das perguntas ganham contornos épicos.

Citando o sociólogo Manuel Castells “Em última instância, todas as grandes mudanças sociais são caracterizadas por uma transformação do tempo e do espaço na experiência humana.”.

Se no mundo atual o tempo e o espaço são relativizados pelo virtual, cuja velocidade da informação desvirtua a antiga fórmula v = espaço/tempo, Matrix é o filme que ilustra essa mudança social, profetiza um futuro enquanto trabalho com elementos do passado, uma fábula como Alice no País das Maravilhas, onde o país das maravilhas foi desterritorializado pela virtualização do real. O mundo está a seus pés ou dentro de sua mente, basta escolher entre a pílula vermelha e a azul, a história do cinema agradece a Matrix, um clássico como poucos.

Comentários de FREDERICO POLES BORGONOVI

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