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sábado, 23 de fevereiro de 2013

Oscar 2013 – Melhor filme é sempre um mistério

Batman - O cavaleiro das trevas ressurge (The dark knight rises, 2012). 
Esnobado pelo Oscar!


Acho que uma das coisas mais misteriosas do universo é o resultado do Oscar para melhor filme. Nem macumbeira das boas consegue acertar a falta de lógica da Academia.

Tem superprodução que é muito popular e ganha nada, às vezes, nem indicado é. Este ano o escolhido para o esquecimento foi o aclamado pelo público Batman – O cavaleiro das trevas ressurge (The dark knight rises, 2012), de Christopher Nolan. Ele faturou US$ 450 milhões, mais que o dobro do faturamento de Lincoln.

Bravura indômita (True grit, 2010)
Tanta indicação para nada!
Tem filme que recebe uma tuia de indicações e ganha nenhuma, como aconteceu com Momento de Decisão (The turning point, 1977) – 11 indicações e nem uma estatuetazinha de plástico para consolação. Não precisamos ir tão longe: o remake dos irmãos Coen, Bravura indômita (True grit, 2010), recebeu 10 indicações para faturar NADA!

Já houve até caso do filme só ser indicado a melhor filme e para mais nada, e ainda por cima ganhou a estatueta: Grande Hotel (Grand Hotel, 1932).

Ocorre que para ganhar a estatueta é preciso se comportar como político e se relacionar bem com seus eleitores, pois duvido que os eleitores do Oscar tenham realmente visto todos os filmes. Então os candidatos precisam estar sempre por lá distribuindo sorrisos e agrados para serem lembrados. Aparentemente, ninguém tá superando Ben Affleck neste quesito, ele bem que poderia abrir uma escola de marketing voltado para a indústria da premiação, pois só um especialista neste tipo de expediente consegue arrancar tantos elogios por trabalhos medíocres. Se ele tivesse dirigido João e Maria – Caçadores de bruxas (Hansel & Gretel – Witch hunters, 2013), iriam dizer que o filme foi super bem dirigido, os atores foram ótimos e ainda concorreria ao Oscar de Melhor Filme em 2014.

Visto que o Oscar é parecido com campanha política, os números dos orçamentos e faturamentos, além das indicações, servem como um guia pra chutar qual vai ser o melhor filme e, quem sabe, ganhar num bolão de apostas.

Comentemos sobre os indicados:

Um filme que levanta questionamentos acalorados
A hora mais escura (Zero Dark Thirty, 2012), de Kathryn Bigelow. US$ 40 milhões, já faturou US$ 88 milhões. 5 indicações. A ficção mais realista da história do cinema talvez não ganhe nada depois que movimentos políticos americanos resolveram difamar o filme, acusando-o de fazer apologia à tortura e fazer uma péssima imagem da CIA. O caso é que a estória é muito bem contada, as sequências foram ótimas, e todo mundo sabe que as forças armadas e o serviço de inteligência usam a tortura para obter informações. Este é um filme que provoca debates sobre a verdade, a ética e a moral dos governantes e de seus agentes. Só por ter provocado o pensamento merece estar na lista dos filmes que devem ser vistos antes de morrer.

Velhice e doenças com realismo nu e cru
Amor (Amour, 2012), de Michael Haneke. US$ 9,8 milhões, faturou US$ 4,1 milhões. 5 indicações. Não sei como este filme veio parar aqui. O fato de ser vencedor da Palma de Ouro é uma prova concreta de que tal filme tem nada a ver com o Oscar. Ele não tem nada de comercial. É capaz de estragar um final de semana inteiro. Você não pode deixar seus avós verem esse filme. Pois é duro, realista, ao nos confrontar com uma realidade da vida: envelhecemos e ficamos à mercê dos outros. Se você é do tipo que vai ao cinema só pra se deleitar em ver rostos bonitos, corpos bem feitos, momentos meigos e felizes, fuja de “Amor”, pois aqui você vai conhecer este sentimento poderoso em sua forma mais extrema.

Tirando o ator principal, vale a pena
Argo (2012), de Ben Affleck. US$ 44,5 milhões, faturou R$ 127,3 milhões. 7 indicações. O filme foi até baratinho e rendeu bastante lucro para o marketeiro Ben Affleck. A estória real é tão absurdamente cinematográfica que parece coisa de cinema. Tirando o ator principal, o canastrão inexpressivo Ben Affleck, o filme foi realmente bem dirigido, revela a desastrosa política internacional americana com o Oriente Médio bem como nos lembra do quanto é importante saber espalhar mentiras na mídia, porque “uma mentira repetida muitas vezes acaba virando uma verdade”, já ensinava Adolf Hittler. Foi através da mentira que o agente da CIA Tony Mendez conseguiu resgatar seis funcionários da embaixada americana no Irã, em 1980. Argo está na lista de diversas páginas de cinema como o melhor filme de 2012. #críticacomprada

Filme bonito... e só!
As aventuras de Pi (Life of Pi, 2012), de Ang Lee. US$ 120 milhões, faturou R$ 111,4 milhões (tá dando prejuízo!). 11 indicações. Logo no início o filme promete contar "uma estória que vai fazer você acreditar em Deus", então esperamos um filme intelectualmente instigante e provocador para alimentar nossas mentes inquietas em reflexões sobre a condição humana, mas ao invés disso, o que vemos é um filme superficial, piegas e meramente simbólico. Com algumas belíssimas cenas somadas aos momentos que obrigam o espectador a chorar, As aventuras de Pi é um filme comercial travestido de filme de arte. Por ter sido um filme caro e piegas, deve ganhar o prêmio de melhor direção e fotografia.

Quentin Tarantino: ame ou odeie
Django livre (Django unchained, 2012), de Quentin Tarantino. US$ 100 milhões, faturou R$ 157,4 milhões. 5 indicações. É impossível se sentir indiferente quando vemos uma obra de Quentin Tarantino! Este não é um faroeste qualquer, pois toca no tema espinhoso da escravidão e sua brutalidade. Como em Bastardos Inglórios (Inglorious basterds, 2009), a violência insana do heroi é apenas um reflexo da insanidade de uma época. A diferença é que aqui o herói não está buscando vingança, tudo o que ele faz é por amor a uma mulher, sua esposa, que pretende resgatar. Filme obrigatório!

Viver à margem da sociedade é ter feriado o ano inteiro
Indomável sonhadora (Beasts of the Southern wild, 2012), de Benh Zeitlin. US$ 1,8 milhões, faturou US$ 12,3 milhões. 4 indicações. Muita gente pensa que não existe favelas nos EUA. Este filme veio para nos lembrar que não é bem assim. Na visão de uma menina de apenas 6 anos de idade, que não tem muitas necessidades e desejos, nem ambições, viver à margem da sociedade é viver em feriado o ano inteiro. Foi essa doçura infantil, além da espetacular atuação de Quvenzhané Wallis que o tornou aclamado pelo público e pela crítica. Mas é óbvio que um filme tão baratinho, cheio de gente pobre e feia, não foi feito pra ganhar Oscar. Se houvessem só cinco indicados a melhor filme estaria de fora.

Momento histórico dramático
Lincoln (2012), de Steven Spielberg. US$ 65 milhões, faturou US$ 176,7 milhões. 12 indicações. O fato de ter tantas indicações e de ter sido o filme com maior faturamento entre os indicados, já é um bom sinal de que será eleito o melhor filme. Gostei do estilo didático deste filme histórico. É um filme interessante sobre a abolição da escravatura nos EUA, com toda a corrupção que a acompanhou, lembrando muito a relação entre os três poderes da nação brasileira.





Protagonistas que parecem garotos-propagandas
O lado bom da vida (Silver linings playbook, 2012), de David O. Russel. 8 indicações. US$ 21 milhões, faturou US$ 100,4 milhões. O tom de humor e drama nesta tragicômica estória tem tudo a ver com o transtorno mental bipolar. Este filme é muito bom como entretenimento, mas fraquinho demais para fazer nos conscientizar sobre as doenças mentais, os limites das pessoas e da medicina, o preconceito social. Com protagonistas que parecem garotos-propaganda, entrou na lista de indicados a melhor filme apenas devido ao sucesso comercial.

Grandioso, comovente e lindo!
Os miseráveis (Les misérables, 2012), de Tom Hooper. US$ 61 milhões, faturou US$ 145,8 milhões. 8 indicações. Sei que musical não é bem o gosto do brasileiro, e também não sou fã, nem de Cantando na chuva (Singin' in the rain, 1952) eu acho grande coisa. O primeiro musical que me marcou foi Dançando no escuro (Dancer in the dark, 2000), de Lars von Trier... até depressão eu tinha só de lembrar tanta tristeza que o filme passava. Mas este musical também me agradou (deu pra notar que só gosto de musical se ele for beeeem triste!), pois pra mim ele é como uma ópera grandiosa, poética, inspiradora, comovente e linda.


Meu voto: A hora mais escura
Quem deve ganhar: Lincoln

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