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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Oscar 2013 – A Hora Mais Escura

  
No início do século XVII, o holandês Hugo Grotius desenvolvendo o conceito de guerra justa como forma de oposição ao ataque injusto sofrido, lançaria as bases do Direito Internacional, e seria considerado um dos precursores do direito natural, utilizando a finalidade como uma justificativa para a prática da guerra, o que Maquiavel já havia feito anteriormente na obra fundadora da Política, “O Príncipe”.
Aproximadamente dois séculos depois, Immanuel Kant retomaria a idéia de direito natural desenvolvida por Grotius, inspirado no antropocentrismo renascentista e atribuiria o direito natural ao homem, e não aos Estados ou às Instituições Eclesiásticas, as guerras que chegaram a durar quase cem anos ou a semear a intolerância religiosa deram origem às revoluções, ao surgimento do direito natural nas cartas de direitos humanos.
No início do século XXI, em “Abril Despedaçado”, o personagem de Rodrigo Santoro recebe já no começo do filme a missão de vingar a morte de seu irmão, seguindo uma tradição de vingança ao estilo talião, que acompanha longos anos de rivalidade entre duas famílias, mas ao mesmo tempo em que sente o incômodo do peso de matar uma pessoa, contraposto à dor da perda de seu irmão, sabe que cumprir a missão abreviará a sua própria vida, e passa a se questionar sobre o real significado da justiça dos homens e a utilidade da vingança como forma de satisfação desse sentimento de justiça.
Esse questionamento aparece em algumas cenas de “Guerra ao Terror” filme de Kathryn Bigelow que arrematou vários prêmios Oscar em 2010, entre eles melhor filme e diretora, quando o personagem de Jeremy Renner não consegue se reenquadrar à vida em sociedade, abrindo mão da paz para voltar à guerra à qual se habituara, ainda que não conseguisse justificar as razões dessa volta, que se tornaria um vício.
“A Hora Mais Escura” poderia ser uma espécie de continuação de “Guerra ao Terror”, mas a falta de questionamentos sobre a reiterada prática de tortura, prisões arbitrárias ou mortes injustificadas legitimadas pela indústria da guerra atribui ao filme o padrão CIA de qualidade, personagens obstinados em busca da caça ao terrorista Bin Laden, e reclamações justas da crítica sobre uma espécie de glorificação dessa violência. Essa questão fica bem caracterizada na evolução da personagem de Jessica Chastain ao longo do filme, pois se no início fica constrangida e se sente incomodada com a prática reiterada da tortura nos interrogatórios, seu amadurecimento como agente da CIA nos quais os outros agentes podem confiar se relaciona à incorporação dessas práticas ao seu trabalho.
O filme retrata um roteiro de vingança, sem se importar em demonstrar como essa busca pela vingança afetou a vida de milhares de pessoas colocadas sob a mira indiscriminada dos canhões de guerra que se levantaram para homenagear Grotius e terminaram por coroar Maquiavel, esmagando no caminho tudo aquilo pelo qual Kant havia lutado, excluindo dos homens o direito a ter direitos apenas com base na lógica exponencial da vingança descrita pela matemática militar americana demonstrada em “A senha: swordfish”. Acaba por demonstrar que a evolução da humanidade não afasta essa mesma humanidade da repetição cíclica da história, podendo ser resumido na frase dita pelo personagem de Jason Clark (em ótima atuação) dita ao prisioneiro antes de um interrogatório com sessões de tortura, “Você não entendeu o conceito, então eu vou explicar melhor, eu não tenho pressa, pois eu tenho tempo, você, a cada dia que passa não, pois seu tempo diminui.”, realmente, o tempo sempre esteve a favor da repetição da história, da vingança e da politização da guerra, não importando se esse tempo era passado, presente ou se futuro.
Jessica Chastain com boas chances de brigar pela estatueta de melhor atriz, em excelente atuação como a determinada e incansável agente da CIA que localizou Bin Laden, e o jornalismo investigativo de Mark Boal, que podem render ao filme uma estatueta pelo roteiro, são as melhores chances de premiação para o filme.
Texto de Frederico Borgonovi.
 
Confira o trailer
 

Um comentário:

  1. Este filme rende muitos comentários sobre política internacional. Excelente roteiro e atuação de Jessica Chastain, que é linda mas não faz papel de gostosa.

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